Estrada
Mais estrada
Demais estrada...
Ao lado
Mata
Menos mata
Sempre menos mata...
Matam a mata
Desmatam
Matam
Estrada
Mais estrada
Demais estrada...
Ao lado
Mata
Menos mata
Sempre menos mata...
Matam a mata
Desmatam
Matam
(11.01.05)
Ouço o Chico
Desde menina
Mais
Quanto mais
Fico Só
Só com as minhas Ansiedades
Com as minhas Saudades
Com as minhas Vontades
Não satisfeitas
Não refeitas
Insatisfeitas
Ouço o Chico, Enfim
Quando fico Assim
Sem mim
Dons entrelaçados...
Com dons mais diversos
Dispersos
Em mãos diversas
Dispersas
Estamos
E vamos de mãos dadas
De dons dados
Entrelaçados...
Nos complementando
Completando lacunas
Algumas mais
Algumas menos
Temos o que ver
Temos o que ouvir
Temos o que sentir
E intuir
Com os sentidos
Dos dons que recebemos
De Deus
Que desenvolvemos
Em Deus
E que agradecemos!
Bendizemos a Deus
Pelos dons diversos
Dispersos
Em mãos diversas
De mãos dadas
De dons dados
Entrelaçados...
(anos 80)
Não contam porque nem espantam o frio
Nem matam a fome
Me disseram que as rosas são supérfluas
E que por isso
Não é preciso o povo ter jardim
Pra poder planta-las
E nem um salário suficiente
Pra poder compra-las
Me disseram que o lazer não conta
Não conta porque nem espanta o frio
Nem mata a fome
Me disseram que o lazer é supérfluo
E que por isso
Não é preciso o povo ter tempo
Pra poder curti-lo
E nem direitos
Pra poder exigí-lo
Me disseram que o prazer não conta
Não conta porque nem espanta o frio
Nem mata a fome
Me disseram que o prazer é supérfluo
E que por isso
Não é preciso o povo ter condições
Pra poder vive-lo
E nem sabedoria
Pra poder valoriza-lo
Me disseram tanto, tanto
Mas não me provaram nada
Pra mim
Continua assim
Que também as rosas
O lazer
E o prazer
Espantam o frio
E matam a fome
O frio de uma vivência inerte
E a fome por uma vida abundante
(16.09.1987)
Velho
Vestido de riscado
Desbotado
Suado
E gasto
Vastos remendos
Nas costas
Onde o sol gosta
De gastar mais,
São sinais de trabalho
De cada talho
De foice
De faca
De coice de vaca
Velho
Vestido de riscado
Remendado
Já tens contado
Um bocado de sonhos
Sonhados
Na luta por sobrevivência.
Não te envergonha
De ser só
Um velho
Vestido de riscado
Porque tens dado
A mensagem de perseverança
E da esperança
Da mulher
Por melhores dias
E então?
Se sorrias no trabalho
Sorri também na batalha
Da organização
E te renova
A cada novo retalho
Que tapam as feridas
Porque, de sofridas,
As mulheres serão livres
E cada manga tua
Velho vestido de riscado
Cada cintura
Cada decote
Cada frisura
Vai envolver
Gestos de ternura
De mulher
Sempre mais expontâneos
Autênticos
E livres.
Tem encruzilhada
Na estrada
Pra se dar
Uma parada
E decidir
Por onde ir
Pra saber
Se vai seguir
Pra lá
Ou pra cá
É vendo a vida
Que a vida
Vai sendo vivida
É forjando as idéias
Que se forja ideologia
É falando a palavra
Que ela se impõe
É erguendo a cabeça
Que a gente fica de pé
E vai...
Pés no chão
Na contramão da vida
Na ida e na volta
Sem volta...
Não tem volta!
Pra viver
E conviver
E bem-viver
Sobreviver
Tem que ser
Com os pés no chão.
A cabeça nas nuvens, sim
O sonho, nos céus
Mas os pés no chão
Se não...
Nada feito direito